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Cuidado com as mortificações violentas e a falta de discernimento nas penitências - Altair Fonseca
Cuidado com as mortificações
Reflexões e Meditações

Cuidado com as mortificações violentas e a falta de discernimento nas penitências

Quem não renunciar a si mesmo, jamais conseguirá seguir a Jesus Cristo de fato. Dessa forma, é indispensável que todos nós passemos pela mortificação de nossas vontades desordenadas para que a vontade de Deus prevaleça em nossas vidas. Entretanto, ao nos compararmos com os santos e buscarmos exercícios violentos de penitência, podemos cair em enganos e nos prejudicar espiritualmente. Vamos refletir melhor sobre isso.

Veja também: Ouvir música do mundo é pecado? Padre Leonardo responde com sabedoria.

Cuidado com as mortificações violentas e a falta de discernimento nas penitências

Ao ler a vida dos santos, sempre me deparo com atitudes heroicas e sacrifícios extraordinários e penso: será que isso é possível na minha vida? Será que devo violentar a minha carne com jejuns extremos, flagelações e humilhações públicas a fim de vencer minhas más inclinações? Bem, a resposta do Espírito Santo, que fala através da Igreja e dos mestres espirituais é que para tudo temos que ter oração e discernimento.

Foi exatamente ao ler sobre as grandes mortificações de São Luís Maria Grignion de Montfort que encontrei, em uma nota de rodapé, um conselho valioso para todos que se sentem chamados a um grau mais elevado de mortificação:

As almas santas não devem ser imitadas à letra nas suas mortificações extraordinárias. Um mestre de espiritualidade, Dom Marmion, salienta a propósito: “Seria uma perigosa temeridade empreender mortificações extraordinárias sem o chamamento de Deus. Com efeito, entregar-se a constantes macerações que torturam a carne e um dom de Deus. E este dom constitui muitas vezes um favor dos mais preciosos. Quando Deus o concede a uma alma, é porque Ele quer prepará-la para receber inefáveis comunicações da sua graça divina. (…) Mas, para enveredar por esta via, impõe-se o apelo de Deus, sendo perigoso apenas o apelo da nossa vontade.” (Le Christ idéal du moine, “Le renoncement”, p. 245).

Sobre as mortificações
Sobre as mortificações

A penitência interior

O Catecismo da Igreja Católica, 1430, ensina o seguinte: “Como já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente as obras exteriores, ‘o saco e a cinza’, os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa atitude em sinais visíveis, gestos e obras de penitência”.

Você entende que de nada adianta a mortificação exterior se o meu coração não se dobra diante de Deus? Se os exercícios heroicos aumentam a minha soberba, eles estão indo na direção oposta de sua finalidade.

A penitência interior
A penitência interior

A necessidade da mortificação

Padre Paulo Ricardo nos ajuda a entender que, seja como for, é importante ter sempre em mente que a mortificação ativa, em suas diversas manifestações, é, sim, uma necessidade, não só para repararmos os muitos pecados com que ofendemos a Deus, mas ainda para a nossa própria purificação e santificação. Precisamos mortificar-nos, no corpo e no espírito, a fim de pormos em ordem nossos afetos e dirigirmos nossa vida ao seu único e último fim: a glória a Deus. Por isso, o motivo principal da nossa mortificação não deve ser outro senão dispor o nosso coração, matando nele o que há de egoísmo e apego às criaturas, para amar o verdadeiro Amor.

O motivo de toda mortificação
O motivo de toda mortificação

Padre Paulo nos ensina que mais do que em praticar mortificações ativas, a nossa vida espiritual deve estar centrada em aceitar as mortificações passivas que Deus quiser nos enviar. Não se trata, como é óbvio, de renunciar por completo à purificação dos sentidos e das potências da alma mediante privações justas e razoáveis, moderando os apetites, sabendo negar o que mais agrada ao paladar etc. Trata-se, isso sim, de uma infância espiritual, ou seja, da perfeita abnegação de si mesmo, inclusive nos menores e mais “insignificantes” detalhes de vida diária.

Você eu temos inúmeras oportunidades diárias para vencer nosso orgulho através das mortificações pela calúnia, as perseguições contra a fé, dentre outras. Quem não quer vencer o orgulho que lateja dentro de si, pela abnegação dos próprios caprichos e critérios, jamais se santificará, por maiores que sejam as mortificações ativas com que sulque a própria carne.

Que o Espírito Santo de Deus te dê o discernimento para que você saiba lutar para vencer as suas desordens, conquistando virtudes até alcançar a santidade.

Referências:

CROM, Louis Le. São Luís Maria Grignion de Montfort. 1. ed. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2023.

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edição típica Vaticana, Loyola, 2000.

RICARDO, Padre Paulo. Padre Paulo Ricardo. Cuiabá, MT. 2018. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/episodios/como-o-cristao-de-hoje-deve-se-mortificar>. Acesso em: 4 out. 2023.

Autor

○ Bacharel em Publicidade e Propaganda ○ Graduando em Filosofia ○ Partilho sobre Filosofia e Fé Católica ○ Link para acessar o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0931986249871001

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